Thursday, June 08, 2006

PARA A PANDORA



Mar picado, tempestade de sal. Palavras amargas, temperadas ao sabor da maré em encontros adiados sob o sol de Inverno.
No cais, presença ausente de quem sente o fim.
No mar sem ti.


Continuo sempre aqui, em maré viva, à tua espera. Debaixo deste sol de Inverno, gelado por dentro e sem atlântico cais.
O mar sem ti.

METAMORFOSES DA DOR


Ideia: O trabalho retoma O CALDEIRÃO em que o acrílico é utilizado como transparência e as formas são compostas por cores que se alongam e rematam umas às outras, sob o signo da adaptabilidade e flexibilidade. Registar degenerescências do corpo e da mente e a forma como estes reagem à dor.

Alvísceras
Tive de ir ao hospital buscar as suas roupas. Meti-me no carro e fui. Perguntei onde se iam buscar as roupas das pessoas mortas. Cheguei e disse ao que vinha; deram-me um saco de plástico, transparente, grande, com roupas dentro. Não o queria abrir mas eles abriram-no e começaram a tirar tudo para fora porque eu tinha de confirmar se não faltava nada. Eu não podia saber se faltava ou não e não queria saber. Foram tirando peças de roupa, uma carteira, um relógio, uma aliança, um par de sapatos. Mostraram-me uma camisa e uma camisola rasgadas de alto a baixo.
Vi pessoas debruçadas sobre ele a rasgarem-lhe a roupa numa tentativa de o salvarem. A pressa do desfibrilhador, a aplicação dos eléctrodos, o primeiro choque, sem resposta, o segundo, sem resposta, o terceiro, a resposta. O segundo silêncio, a segunda tentativa, a continuação do silêncio. A chegada da ambulância ao hospital ainda sem resposta, a terceira tentativa porque, talvez....a desistência. O silêncio dele e dos outros, o voltar costas.
Levo a minha roupa rasgada para o carro. Paro no primeiro caixote de lixo que encontro e deito fora a roupa toda. Não faltava nada mas porque lhe rasgaram a roupa? Foi a pressa de o salvar... Mas ele morreu, não morreu?


Data da realização:
Local:
Materiais:

POLAROIDS DE FANTASMAS

Ideia: Em 2004 comecei a elaborar um projecto sobre a expressão "A minha vida dava um filme". Esta expressão era normalmente utilizada relativamente à vida sonhada ou idealizada e não à vida real, aplicando-se a explicação de Freud em "Creative writers and day-dreaming",1908.

A partir dessa ideia foram escritos textos sobre dez personagens Polaroids: o legionário falhado, o poeta segurador, o advogado doutorado, o homem das mudanças, o veterinário de quem os carraços gostam, o barman escritor, o voiturier, o marceneiro do orfeu, o restaurador das ressaibadas e o galerista do bric-a-brac. "Os Fantasmas" desses homens/Polaroids são as minhas projecções/visões sobre cada um dos personagens e sobre a vida que vivi com eles.

Ao mesmo tempo que os textos iam sendo escritos, iam sendo recolhidas imagens para o ambiente das telas e dos recortes. Os Polaroids são representados por telas pintadas com as silhuetas de cada um dos personagens. Os Fantasmas são reproduzidos por um mesmo recorte da minha silhueta que serve de suporte à pintura. De cada Polaroid foi realizado um Zoom. O trabalho insere-se na corrente de arte narrativa de que é exemplo Sophie Calle.


Data da realização: Novembro 2006
Local:
Materiais:
10 telas com 180x70 (colagem, pigmentos e acrílico) - Polaroids
10 recortes em Mdf de 5mm com 170x80 (colagem e acrílico) - Fantasmas
10 telas de diversos tamanhos (colagem e acrílico), detalhes dos polaroids - Zooms

TELAS EM BRANCO

Ideia: Trabalhar com o branco, não como a ausência de cor mas como o acumular de todas as cores. Em termos técnicos, a tela começa escura e vai clareando, até se chegar ao branco total ou com diferentes tonalidades. Trata-se do processo oposto ao de se adicionar cor, escurecendo-se a tela até se chegar ao preto.
Os textos que foram surgindo ao mesmo tempo que os quadros foram sendo pintados, pretendem negar a separação entre a pintura e a escrita. Os textos foram apresentados em setas de preços de supermercado(em cima Creep1 e Creep2)

Data da realização: 29 de Novembro a 7 de Dezembro de 2002
Local: Palácio da Independência
Materiais: oito trabalhos em acrílico e colagem sobre telas de várias dimensões

Casa Branca
A ideia era chegar à casa branca.
Para lá chegar o caminho era íngreme. Pela diferença de tons, do mais escuro ao mais claro, percebia-se que não devia ser fácil subir.
Entrei na rua estreita e encurvada. Vi um cão pequeno, com o pelo branco, curto e encaracolado. O cão dirigiu-se a mim e perguntou-me se estava perdida. Disse-lhe que queria ir para a casa branca no topo da encosta. O cão fugiu.
Decidi avançar pela rua calcetada de preto com varandas de ferro forjado. O ar tornava-se rarefeito à medida que subia. Tirei os óculos escuros e imediatamente vi o cego com os seus postos. Ouviu-me e chamou o meu nome. Assustei-me e fiquei ainda com menos ar. Ia custar chegar à casa branca se, de esquina em esquina, me interrompiam.
O cego perguntou-me: "Outra vez a querer espreitar a vida dos outros? Não lhe bastou ver a casa vazia? Já lhe dissemos que era inútil querer ver lá alguém."
Ele tinha razão. Era a terceira vez que subia à casa branca.

Passar despercebido
O negro ouviu mas não levantou a cabeça.
O bar estava cheio. A maioria eram negros, sozinhos ou dois a dois, a comer em silêncio.
Cinco brancos discutiam. Dois deles estavam exaltados e insultavam-se. As vozes enchiam a sala e era impossível deixar de os ouvir.
O negro nem levantava a cabeça. Anos e anos a não levantar a cabeça com medo que alguém se apercebesse que ele estava vivo. Não existir, não fixar o olhar, passar despercebido. Se o branco e a vida não me virem eu não existo e talvez possa viver mais uns anos.


Afogada
Um dia comecei a beber vinho decidida a parar apenas uns minutos antes de morrer. Tinha visto isso num filme. Tal como o protagonista também não sabia porque razão queria morrer. Acho que ambos apenas queríamos beber para nos afogarmos por dentro.
Não consegui morrer porque não consegui parar de beber.



Esta casa não é minha
Não consigo entrar na casa. A casa é daquela que eu fui outrora. Eu já não sou essa, nem pior, nem melhor, apenas diferente. A casa pertence aos meus mortos, alguns deles ainda vivos. Eles que fiquem com ela. A casa é o seu túmulo.




Mente perfeita
Para Platão, a mente estava na cabeça, uma esfera, a forma geométrica perfeita.
Na sua cabeça, uma esfera perfeita, nasceu uma pequena esfera, também ela uma forma geométrica perfeita. Os médicos disseram que ela já lá estava há muito tempo. Seria fácil removê-la numa questão de horas.
Não se despediu da mulher nem dos filhos. Todos ficaram por ali à espera que a operação terminasse.
Afinal a pequena esfera perfeita era maior do que se pensava e a operação não correu bem. A sua cabeça nunca mais voltou a ser uma esfera perfeita porque lhe faltava a pequena esfera que a tornava perfeita.

Corpo perfeito
Na Universidade Maharishi (Iowa, EUA) oferece-se um conjunto completo de disciplinas académicas para gerir com sucesso todos os campos da vida, obtendo-se formação em ciências da Inteligência Criativa. Esta é também a base de um conjunto de produtos de saúde e beleza para venda aos que querem um corpo perfeito numa mente perfeita.
Inscreveu-se, dizendo que queria apenas o corpo perfeito. Responderam-lhe, explicando que não faziam milagres.



TIMOR - A wild thing never feels sorry for itself…


Ideia:A partir das fotografias tiradas em Timor registar a “paisagem armadilhada” por contraposição à “ideal”. A cor é importante para retratar esta contraposição.
Só se consegue compreender Timor se tivermos lá vivido e quem lá viveu "would always remember Matrix"
Uma das primeiras coisas que nos disseram à chegada foi: Se atropelarem um galo, criança, cabra, ou porco, nunca parem porque podem ser linchados.

Timor é um povo parado no tempo (como num documentário do National Geographic) que te vem beijar a mão por teres dançado com eles ou por teres dado um chocolate a uma criança.
Timor é ver corpos a boiar na praia e reconheceres a pessoa agora morta.
Timor é tentar ajudar uma criança num dia e saber que ela pode desaparecer no dia seguinte.
Timor é a pedinchice instalada e a total irresponsabilidade nacional porque a culpa é sempre do colonizador que tem a obrigação de tudo fazer para atenuar um sentimento de culpa ancestral.

Timor era um ideal e passou a ser uma paisagem armadilhada.


Data de realização: 26 de Novembro a 6 de Dezembro de 2001
Local: Palácio da Independência
Materiais: seis trabalhos em acrílico sobre papel fabriano 400gm (40cm×40cm)

CARTAS DE SOROR MARIANA ALCOFORADO


Ideia: A partir das Cartas de Mariana Alcoforado, conjugar a escrita em papel com o sofrimento do abandono em vida que implica um homicídio mental.

What makes u move?

Give me the password to freak u out
to make u shout
to call me a bitch as u once did
when I did nothing compared to now.

Give me a sign that u need help
that help can still save u
from the depths of the big sea
from the blur of your small life.

Give me a weapon to kill u
again in my mind as I already did
once before between laughs and tears
between men and women

surviving this pain of having to kill u once more.


Data da realização: 9 de Setembro a 10 de Outubro de 1999
Local: Galeria Maria Lucília Cruz e Pousada de S. Francisco em Beja
Materiais: seis trabalhos em acrílico e colagem sobre tela (33cm×24cm)

CALDEIRÃO




Santas que foram bruxas
mortas no seu próprio caldeirão

SNBA Sociedade Nacional de Belas Artes

1995 - 1º ano SNBA (final do ano)

Hegel - O desconforto perante o início, in "A Ciência da Lógica"
A mão que hesita antes do primeiro traço, o medo de sujar o branco sem retorno; o momento da decisão.

DECISÃO – acto ou efeito de decidir
1. resolução, determinação, deliberação
2. desembaraço, disposição, coragem
DECIDIR – determinar, resolver, assentar, deliberar
1. dar solução a, desatar
2. dar preferência a, optar
DILEMA - raciocínio cuja premissa é alternativa, conduzindo qualquer dos seus termos à mesma consequência; Situação com duas saídas difíceis ou penosas

(tela exposta)


1996 - 2º ano SNBA (final do ano)

Série policial:

1.O caso da morta na piscina (tela exposta)


2. O caso da bailarina descalça (esboço)
(danças tribais nos concertos, o embate dos corpos)


3. O caso do jockey gordo (esboço)
(opulência de formas – a gula, a decadência)

4. O caso das calças do jardineiro
(sensação de ser pisado, pontapés em corpos inertes)

Wednesday, June 07, 2006

ILUSTRAÇÃO E AZUIS

CASA DE CAMPO
PÉ DE SANTA

ILUSTRAÇÃO

SALTARILHO

JANELA

NATÉRCIA